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Bairrada: um local de culto e de vinhos fantásticos!
A frescura da influência atlântica e o mosaico de solos, são os pilares-base de todos os vinhos da região e que marcam o terroir bairradino.
Junto à costa Atlântica, entre Aveiro e Coimbra, com o limite Oeste estabelecido pela Serra do Buçaco, estende-se a magnífica Bairrada. Terra de vinhos tranquilos e espumantes, produtos pelos quais a região é mais conhecida. Tem também sob a alçada da Denominação de Origem Controlada (DOC), a possibilidade de certificar vinhos licorosos e ainda aguardentes.
A orografia é razoavelmente plana, com colinas é certo, mas de pouca altitude.
A chave da região é de facto a riqueza que vive debaixo do chão, tal como noutros locais. Mas aqui, de forma evidente, a riqueza implícita do terroir é factual e quase visível a olho nu na vinha. Tendo por base solos de matriz calcária, com maior ou menor presença de argila e diferentes quantidades de areias, podem apresentar uma maior evidência de pedregosidade e ainda solos de aluvião. Esta pedologia variada faz do viticultor a trave-mestra da feitura dos vinhos. A região é cruzada por pequenos rios – o Cértima, o Levira, o Águeda, o Boco e o Varziela, que contribuem para a distribuição deste mosaico de solos.
É uma região caracterizada pela estrutura parcelar de pequena dimensão, com pequenos e médios viticultores-engarrafadores e grandes caves. Estas casas atuavam no passado, quiçá inspiradas no modelo Bordalês, como “negociants” e, com o passar do tempo, foram-se também tornando produtoras de uvas e não só compradoras.
Sobre as castas, é de necessária reverencia a menção à rainha, a Baga. A Baga tem aqui o seu maior expoente, brilha mostrando as nuances do terroir, do solo e do estilo do enólogo. No respeitante a castas brancas tem, no meu entender, duas pérolas maiores, a Cercial e a Maria-Gomes. Mas também tem belíssimos vinhos brancos feitos com base na Bical e na Arinto. As naturais aptidões tornam a região um local de culto para grandes brancos de consistência qualitativa frequente no encandear dos anos vitícolas. Ao invés do que talvez se possa pensar, a frequência de tintos memoráveis é menos presente do que o desejado por todos, produtores e consumidores. Esta natural aptidão à frescura foi reconhecida cedo, quando há 130 anos se começaram a fazer ensaios de espumantização. Terra de fantásticos espumantes que, tal como os brancos, permitem um contínuo qualitativo invejável.
A história da região é antiga e, tal como em todas as vidas, tem tido momentos de maior glória e outros de maior provação. É para muitos enófilos, nos quais me incluo, local de culto e de vinhos fantásticos. Tem estado em franca recuperação do seu charme e, com passos certos e regulares, rumo a um brilhante futuro.