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Escanção de… água?

por Filipe Silva em

Por algum motivo Riese estabeleceu a sua base na ensolarada Califórnia, na cidade de Los Angeles, berço das tendências mais vanguardistas, incluindo no plano alimentar. É a partir daí que desenvolve a sua cruzada para convencer as pessoas a encararem a água da mesma forma que o fazem, por exemplo, com o vinho.

Segundo o Euromonitor International, os Estados Unidos gastaram no ano passado uns 18,8 mil milhões de dólares (mais de 16 mil milhões de euros) em águas engarrafadas. Mais do que qualquer outro país. Ora, dentro da nação americana, a Califórnia é um particular cliente, com uma população obcecada por tudo o que tenha a ver com água. Mas Riese remete a faceta consumista para segundo plano: “para mim, é tudo uma questão de gosto”! Afirma que o carácter e sabor da água são determinados pelo terroir, o abrangente conceito tão familiar aos apreciadores de vinho e compreendendo fatores tão diversos como o solo, clima, geologia...

Aliás, um apreciador de vinho não resumiria melhor o objeto da sua fixação. Riese recorda as viagens com os pais e o gosto das nascentes onde se refrescavam, em cada destino. Acabaria por transformar esse prazer infantil numa carreira. Em 2006, elaborou a primeira carta de águas para o restaurante onde trabalhava, em Berlim, e em 2009 publicou o livro “Die Welt des Wassers” (O Mundo das Águas). Um ano depois, recebia o certificado de escanção de águas, outorgado pela Associação Comercial Alemã de Águas Minerais.


Em 2011, desembarcou na Califórnia e não tardou que o seleto bar do Museu de Arte de Los Angeles adotasse a sua carta de 20 águas, rigorosamente selecionadas e a preços acessíveis. Mas o proprietário do bar detinha outro restaurante mais luxuoso, o Patina, e rapidamente o “sommelier d`eau” alemão estava a conduzir provas de águas de 50 dólares.

Provas onde o apreciador aprende que a dinamarquesa Iskilde é mais fresca (e mais barata)que a famosa norueguesa Voss, evocando memórias sensitivas infantis como quando provávamos as gotas geladas da chuva; ou que a eslovena Roi possui um sabor de travo metálico, reminiscente da velha aspirina, devido ao seu elevado teor de magnésio. E que, por isso, é recomendada como suplemento dietético. Ou ainda que a escolha mais natural de origem Ibérica, em termos de águas gasificadas, é uma garrafa de 50 dólares da portuguesíssima Vidago.

Escolhas que suscitam óbvia curiosidade dos media e que tem valido a Riese múltiplas entrevistas e apresentações, como esta conversa com Conan O`Brien, num dos mais populares “talk-shows” da televisão por cabo norte-americana.


E se é possível conciliar águas com estilos de vida, sabores à parte, nem sempre o preço tem a ver com a pureza da água ou excentricidade do terroir. Martin Riese faz questão de demarcar a fronteira, pois o custo nem sempre tem a ver com o gosto. Muito menos com a água. Tomemos aquela que é considerada a água engarrafada mais cara do planeta, a “Acqua di Cristallo Tributo a Modigliani”. A 60 mil dólares a garrafa esvazia mais depressa a carteira do que a sede e seja qual for a fonte, nem se pode dizer que a seja muito cara, se atendermos à garrafa feita de ouro maciço.

Foi desenhada por Fernando Altamirano, o mestre “tequilero” mexicano que assina algumas das garrafas de espirituosas mais caras do mundo (Tequila Ley). Autor, por exemplo, da vasilha que leva o Cognac mais caro do planeta, o Dudognon Heritage Henri IV. Mas, no caso da Acqua di Cristallo e se achar a garrafa de ouro maciço demasiado cara, tem sempre a versão simples banho de ouro, por 3600 dólares. Vem numa pasta de couro como a outra e a água contém os mesmo 5 miligramas de pó de ouro. Nós… ficamo-nos pelo vinho.

 

Fonte: agência Reuters

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