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Guia Michelin 2015: copo meio cheio ou meio vazio?
Sendo o vinho um eterno aliado da boa mesa, o acontecimento que todos os anos agita o melhor da nossa gastronomia também mexe com o país enófilo. Simples apreciadores, críticos e produtores de vinho digerem a apresentação este mês de Novembro, em Marbella, do Guia Michelin 2015 para a Península Ibérica. Na gíria, o Guia “encarnado”, referente a Portugal e Espanha. Com as opiniões, como quase sempre, a dividirem-se entre os que celebram um copo meio cheio e os que vêm o copo meio vazio.
Mas, vamos a factos: todos os restaurantes que haviam sido distinguidos na edição de 2014 mantiveram o galardão. Repetem duas estrelas o Vila Joya, de Dieter Koschina, e o Ocean, de Hans Neuner, ambos no Algarve e ambos da responsabilidade de 'chefs' austríacos. Mantêm uma estrela o Willie's (Vilamoura), o Henrique Leis (Almancil), Il Gallo d'Oro (Funchal), a Casa da Calçada (Amarante), a Fortaleza do Guincho (Cascais), The Yeatman (Porto), o Feitoria (Porto), o Eleven (Lisboa) e o L'And Vineyards (Montemor-o-Novo).
Destaque ainda para a atribuição da primeira estrela ao jovem chef Pedro Lemos, responsável, no Porto, pelo restaurante com o seu nome. Já o São Gabriel, de Leonel Pereira, em Almancil, Algarve, recuperou a distinção perdida o ano passado. Ou seja, um total de 14 cozinhas com a boa estrela, mais 2 que o ano passado. Recorde absoluto para Portugal, onde se distingue claramente o turístico Algarve como a constelação mais brilhante do nosso firmamento gastronómico.
A seguir, surge a capital, onde o Belcanto, de José Avillez, conquistou a segunda estrela, tornando-se o primeiro restaurante lisboeta a conseguir tal feito. Aqui, nada de acordo com os que tentam encher o copo, vendo também na estreia de Pedro Lemos um marco para a Invicta (cidade)…
Divisões administrativas à parte, qualquer apreciador “vê”, e quem lá mora melhor do que ninguém, por exemplo, o Yetman (Gaia) como um grande restaurante do Porto. Assim como a Fortaleza do Guincho (Cascais) em relação a Lisboa, e por aí fora.
Vistos os factos, conclui-se também que o país, como destino turístico no seu todo, continua a não ter nenhum restaurante 3 estrelas. Ou seja, Portugal continua a não merecer a distinção máxima do Guia Michelin, aquela que afirma uma "cozinha de nível excecional, que justifica a viagem".
Desdobrando o mapa e comparando com a vizinha Espanha, o facto torna-se ainda mais relevante: “nuestros hermanos” contam 8 cozinhas excecionais, que justificam a viagem! Oito com 3 estrelas, 18 restaurantes com 2 e 143(!) com uma… Ou seja, mesmo descontando as dimensões de país, população, etc. há claramente um desequilíbrio nos céus da Península. Parecendo dar razão aos que ainda vêm o copo meio vazio. Mas a constelação peninsular e o desenho que dela fazem os inspetores do Guia, é outra história… que trataremos com o devido detalhe, neste mesmo espaço.