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Harmonizações Momentâneas

por Filipe Saavedra em

O vinho é um produto alimentar que nos inspira, que nos fascina. Não é um bem de primeira necessidade, de todo! Tomamos vinho por hedonismo. Assim, permitam-me escrever-vos sobre como escolher um vinho para determinado momento. Alguém terá dito, que somos o que comemos… eu acrescento que também somos o que bebemos.


Mais tarde, noutro texto, abordarei uma temática mais recorrente que resulta do cruzamento entre vinho e comida. Mas ainda que seja um produto que muitas, quiçá a maioria das vezes, é tomado à mesa de refeição, pode e será cada vez mais tomado fora da refeição. Ainda assim, quer seja na mesa ou fora dela, dependerá sempre do nosso humor, do nosso momento, da nossa envolvente. Por isso vamos explorar o que designei de Harmonizações Momentâneas!


Os dicionários informam que harmonizar é sinónimo de: conciliar, estabelecer harmonia entre… Não há dúvidas sobre o significado e abrangência do que significa harmonizar. Assim, desta vez, vou explorar a diversidade do nosso humor e a harmonização com vinhos! Não há dúvida que certos vinhos concordam mais com determinados momentos tornando a escolha quase instintiva. Vou tentar agrupar os estados de humor em três grandes grupos:


- Boa onda. Estamos de bem com a vida, felizes, em boa companhia e disponíveis para uma boa conversa… pois o vinho não pode tomar o lugar de destaque. O vinho será um elemento mais no nosso momento, quiçá um branco frutado, fresco, leve! Um rosé, mais ou menos aromático, mais ou menos complexo. Ou até um tinto cheio de fruta e frescura. Queremos um vinho que se harmonize connosco por semelhança. Que seja jovial, ligeiro e prazeiroso, descomplicado.


- Recolhimento. Se estivermos como este tempo de Inverno de chuva, de frio, precisamos de conforto, com ou sem lareira, com ou sem manta, procurando um vinho mais complexo, mais rico, mais texturado, que nos ajude a sentir mais completos. Neste momento, podemos explorar desde tintos com mais corpo, até aos brancos mais complexos com notas de madeira e untuosidade, em tempos adjectivados de “brancos de lareira”. É o momento de aconchego, em que o acréscimo de complexidade, de volume, em prova dado por estes vinhos mais ricos, nos conforta e preenche.


- Contemplação. Estamos de peito cheio, somos imbatíveis e há em nós um pendor hedónico de grandeza e felicidade. Vamos sem medos à garrafeira. Aquela colheita especial, aquele vinho com mais idade, a raridade, a garrafa bonita da cave, hoje é o dia dela. Prepara-se o ritual, os detalhes, o tempo não corre ligeiro, pede calma. Pois há vinhos, no limiar da arte vínica, que foram feitos para dias e momentos assim. Todo o palco é do vinho, nós sentamo-nos confortáveis descobrindo tantas nuances aromáticas e tantos detalhes sensoriais que estes monumentos de Baco têm para nos dar.


Assim, sem dúvida ouvindo-nos bem, tiraremos o melhor proveito da miríade de estilos de vinho que existem, de tantas cores, aromas e sabores! Temos de nos ouvir e, conhecendo a nossa garrafeira, vai haver um vinho que é a nossa cara para cada momento.
PS: prometo voltar a este tema das harmonizações, com mais uma nuance, ainda antes das mais conhecidas entre vinho e comida! Até lá, boas provas.

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