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Mineralidade, a frescura tema quente!

por Filipe Saavedra em

Frescura de um tema quente? Explico-me melhor: a minha adjectivação deriva do facto da “mineralidade” me remeter para frescura ácida, não térmica; quente, porque é um assunto do momento.


A “mineralidade” será, por ventura, quase um “neologismo” do vinho que, não poucas vezes, é usado até à exaustão, especialmente no respeitante a vinhos brancos… Neste momento, a “mineralidade”, está para os descritores de vinho, quase como uma música boa para a rádio. Essa música boa, passa tão repetidamente na rádio, ao ponto de me fazer mudar de estação. Assim estamos no vinho: muita “mineralidade” é comunicada em notas de prova… e creio que face ao que lemos, pouca provamos.


A acidez num vinho, é como tantos outros elementos (álcool, taninos…) um ponto de equilíbrio, faz parte de um todo maior. A acidez acrescenta uma sensação de frescura, mais crocante ou mais salina, mais precisa, elegante ou tensa. Quão maior é a concentração de ácidos orgânicos naturais da uva e em função das suas características, maior é a percepção ácida. Sem acidez, ou melhor dizendo com menor concentração, são necessários outros elementos para manter o bendito equilíbrio. Assim, vinhos com menor acidez, de forma a que se não corra o risco de apresentar um vinho cansativo, sem vida no palato, necessitam de um equilíbrio garantido por outros elementos.


Sendo um tema que corre o risco de ser mal definido, apesar de muito falado, importa sublinhar o que não é a “mineralidade”. Não é reflexo da absorção mineral que as raízes das videiras fazem do solo. Do solo, as plantas retiram, através das raízes, água, matéria orgânica e inorgânica. No entanto, esta passagem faz-se para a planta e, está provado cientificamente, que a famosa “mineralidade” do vinho, não resulta de absorção radicular. Não existe, não se verifica.


A “mineralidade” é um adjectivo, que deve ser usado para expressar sensações não frutadas dos vinhos. Aromas de barro, de terra molhada, do aroma de pedras esmagadas, de um fósforo acabado de riscar… Estas sensações “minerais” do aroma aliadas a uma acidez vibrante, alta, refrescam o palato quando o vinho está na boca. É quase como uma sensação energética. Um dos testes que faço, depois do qual me autorizo a usar o famoso adjectivo nas minhas notas sobre vinho, é o seguinte: perante um vinho branco o mesmo me parece fresco na boca, independentemente de estar servido fora da temperatura ideal de serviço. É essa frescura não térmica, mas táctil. É essa energia cortante da acidez, que me impele a poder usar com parcimónia o adjectivo “mineral”.


Assim, há vinhos fantásticos por todo o mundo, especialmente brancos, que são minerais! Impendentemente da origem e castas utilizadas. Tem muito mais a ver com as técnicas de vinificação que mantêm ou procuram exacerbar essa frescura ácida mais acutilante. Creio de justa referência, mencionar que nalguns tintos, mais raramente, também me permito usar o termo, mas para caracterizar mais a sensação deixada pela associação tanino/acidez, mas isso é claramente do departamento “cocabichinhos”. Não é relevante, sem significância de maior para a discussão de hoje. Assim, boas provas de brancos crocantes de perfil mineral, mas já sabem, sempre com moderação! Quer com o vinho, quer com o descritivo.

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