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Nem tudo o que reluz é… vinho.
Pode ter sido um fortificado espanhol, um licor ou uma simples mistela alcoólica medicinal. Certo é que após século e meio no fundo do mar, as garrafas resgatadas ao largo das Bermudas, de vinho já só guardavam o formato.
Pomposamente anunciado como um evento vínico “Das profundezas: em maturação há mais de 150 anos”, atraiu mais de 50 apreciadores norte-americanos que pagaram (e bem…) para provar a suposta relíquia. Expetativas que se desvaneceram mal o painel de provadores convidados procedeu à decantação do “tesouro”: aquela espécie de lodo cinzento, que escorria para o decanter, vinho não era com certeza. No copo, a confirmação. Cânfora, água estagnada, aguarrás e enxofre, foi o veredicto do professor de química da Universidade de Bordéus, Pierre Louis Teissedre, após a prova. Menos mal que a análise química propriamente dita revelou uma percentagem de 37% de volume alcoólico…
O “vinho” em causa era proveniente de 5 garrafas resgatadas por arqueólogos marítimos, de um navio a vapor afundado em misteriosas circunstâncias durante a guerra civil norte-americana. O navio Mary-Celestia estava a sair das Bermudas, carregado com mantimentos, quando embateu contra um recife e naufragou em cerca de seis minutos, explicou à Reuters Philippe Rouja, um antropólogo cultural e conservador dos destroços de navios históricos do governo das Bermudas. Até hoje, não se sabe se o naufrágio foi provocado ou acidental.
As garrafas estavam intactas em 2011, quando foram retiradas dos destroços e, está-se mesmo a ver, a euforia da organização do festival gastronómico de Charleston, no estado da Carolina do Sul, ao anunciar a sua abertura e prova. Sala esgotada e um painel de peritos a condizer, não podia ser maior a deceção. Segundo a agência Reuters, a apreciação geral foi de que o líquido tinha um travo forte a "água salgada e gasolina".
Boa vontade dos participantes, com Paul Roberts, um dos especialistas convidados, a sublinhar que não era a primeira vez que provava vinho retirado dos destroços de um barco afundado. "Os vinhos podem ser ótimos", sublinhou. Claro, não era o caso do líquido acinzentado, aspeto muito pouco apelativo e aromas ainda mais repelentes.
Fonte: Agência Reuters