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O estranho caso da Touriga nacional

por Filipe Silva em
Há alguns anos alguém se lembrou (e bem…) que Portugal tinha uma casta tão boa e tão diferenciada de tudo o resto que há espalhado pelo mundo, que nela nos podíamos basear como sendo um dos pilares da nossa estratégia de marketing a nível internacional.

A casta, claro, era a Touriga Nacional, a qual só tem o pequeno defeito de não se chamar “Touriga de Portugal”. Esta casta portuguesa podia assim ser o nosso factor diferenciador (algo unicamente nosso) em todos os mercados internacionais.

Não se tratava de inventar a pólvora, mas antes de replicar casos de sucesso como o Pinot Grigio italiano, o Shiraz australiano (diferente do Syrah francês) ou o Sauvignon Blanc neo-zelandês.

A ideia não é boa. É muito boa, mesmo. No entanto até hoje muito pouco se conseguiu concretizar. E porquê?

Várias são as razões. A principal é que não se conseguiu criar, associado ao nome da casta, um conceito de produto, um tipo ou um perfil de vinho a que correspondesse o nome da casta.

Isto pode parecer redutor para um enólogo que faz simultaneamente um Touriga Nacional no Douro e no Alentejo.

Mas não o é. É no fundo a própria essência da diferenciação, na cena internacional dos vinhos.

De tal forma o fizeram os australianos, os italianos e os neozelandeses, que puderam até mesmo chegar ao ponto de praticamente prescindirem da própria casta e mesmo assim conseguir continuar a vender o seu próprio conceito.

Não queremos aqui questionar quanto da casta Pinot Grigio tem na realidade parte dos Pinot Grigio que se vendem em todo o mundo … o que verdadeiramente importa para a discussão é que hoje em dia a marca “Pinot Grigio” não só é uma marca global, como além disso, identifica um tipo de vinho diferenciado.

E como se podia criar um conceito “Touriga Nacional” a nível global? Uma das hipóteses era o de associar algumas das características próprias da casta, como por exemplo, o carácter floral da sua prova, a um factor que fosse actualmente procurado pelos atuais consumidores de vinho: por exemplo a elegância ou a complexidade.

Mas para tal era importante que alguma transversalidade fosse criada entre as regiões em que a casta atinge o seu máximo potencial, Dão e Douro, para que outras regiões (Lisboa, Alentejo, Beira Interior, etc.) seguissem esse mesmo paradigma a nível internacional. 

E já agora também era fundamental que se apostasse em comunicação. Sim: Comunicação. Não falamos aqui de jantares e almoços com jornalistas…. Mas comunicação para o grande público, algo que os organismos de marketing do sector, em Portugal, só muito sofrivelmente o fazem.

Para tal, seria necessário um projecto mais global e de longo prazo que ultrapassasse os individualismos (mesmo os bem intencionados …) de alguns enólogos “super stars” defensores da Touriga Nacional, a ponto de ser criado um projecto a nível nacional. O mesmo poderia ser feito (por que não?) com outras castas que têm tanto potencial, como por exemplo o Alvarinho.
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