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O que faz trabalhar mais o cérebro: Provar um bom vinho ou resolver uma conta?
Para beber um bom vinho não é preciso desculpas, basta gostar. Ainda assim, nós damos-lhe uma: a degustação de vinho pode estimular mais partes do cérebro do que resolver um problema matemático complexo ou ouvir um concerto de Beethoven.
Quem o afirma é Gordon M.Shephed, professor de Neurociência da Universidade de Medicina de Yale, que escreveu um livro sobre a “neuroenologia”. Mas não basta degustar por degustar, é preciso estar concentrado e envolvido na tarefa.
Daí que caso seja sommelier e a degustação faça parte do seu dia-a-dia, é bem mais provável que esta actividade seja mais estimulante para o seu cérebro do que resolver uma operação matemática, por exemplo, como explica o professor:
“A degustação envolve múltiplos sistemas sensoriais e motores, assim como sistemas conceptuais centrais como é o caso da cognição e memória, e ainda sistemas relacionados com a emoção e o prazer. Assim, o cérebro torna-se mais envolvido na degustação de vinhos do que, por exemplo, quando está a resolver uma equação matemática ou a ouvir música, porque essas tarefas não activam tantos sistemas corporais.”
Pode ser difícil de assimilar que a degustação ponha em acção mais partes do cérebro que um problema matemático, mas isso deve-se em parte ao facto de os sabores que nós sentimos quando degustamos algo – seja comida ou bebida- não existirem verdadeiramente, sendo criados pelo nosso cérebro. Confuso? Shepherd explica-lhe.
Na verdade, de acordo com o professor, tudo aquilo que nós sentimos ou vemos é criado pelo nosso cérebro. Por exemplo, a cor, não existe realmente nos objectos. O facto de algo poder parecer roxo ou laranja é resultado da forma como a luz atinge um determinado objecto e são os diferentes comprimentos de onda de luz que estimulam os circuitos do nosso cérebro. Da mesma forma sentimos dor devido ao processo neurológico que ocorre no cérebro em resposta a um estímulo que nos indica que algo de errado se passa com outra parte do nosso corpo – por exemplo, quando um tijolo cai em cima do nosso pé).
Assim, as moléculas da comida e do vinho não têm realmente um sabor único. São os nossos sistemas sensoriais que definem a forma como nós percecionamos o sabor de algo. A grande diferença entre o paladar e os outros sentidos é a quantidade de sistemas sensoriais e corporais que estão envolvidos, como é explicado por Shepherd num artigo publicado em 2015 na revista Flavour.