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Robert Parker? Não. Soo hoo…!

por Filipe Silva em

No mercado dos vinhos caros, há mais de 30 anos que o copo está meio cheio ou meio vazio consoante as notações da revista, agora “newsletter”, The Wine Advocate. Menos de 90 pontos é o limbo. Acima dessa fasquia, os pontos traduzem-se em milhares de caixas vendidas no mercado americano. A nota máxima, 100 pontos, significa o olimpo. E, claro, preços estratosféricos…

Influência global baseada num princípio muito simples, isenção. Ou seja, total independência, tal como esta é concebida pela lógica consumista americana. Nada de publicidade nem de ligações ao vinho ou derivados. Robert Parker e a sua equipa de provadores sempre reivindicaram um único compromisso, para com o consumidor. Compromisso expresso, sem equívocos, no mote da publicação: “The Independent Consumers Guide to Fine Wines”!

A proposta não se alterou quando, no final de 2012, Parker anunciou a entrada de investidores internacionais na Wine Advocate. Limitou-se a descrever os compradores como “totalmente independentes da indústria do vinho”, garantindo que a publicação continuaria a ser dirigida a partir de Maryland. O circunspecto Wall Street Journal noticiou a venda por 15 milhões de dólares (10 para RP) e selou a curiosidade dizendo que, como é habitual nestes casos, os compradores mantinham o anonimato.


Ao longo de 2013, a par da transição da revista para o online, primeiros desvios: Parker cedia o cargo de Editor Chefe à correspondente em Singapura e “Master of Wine”, Lisa Perroti-Brown. A publicação passava também a dispor de uma segunda redação na chamada Suiça do oriente. Não tardou a saber-se que esse escritório de Singapura era a nova sede da empresa. Fosse por tudo isso, ou pelas mexidas na equipa de provadores, com a entrada de 3 novos críticos, certo é que o falatório e a especulação nos bastidores da indústria foram em crescendo.

Já em 2014, uma publicação britânica revela que dois investidores na Wine Advocate eram quadros do Deutsche Bank e da Goldman Sachs, sem ligações à indústria do vinho. Segundo a Decanter.com, foram eles que reuniram investidores de Singapura e intermediaram o negócio, embolsando 5 milhões de dólares. Segundo a mesma fonte, o objetivo comercial era abrir a publicação à publicidade, rentabilizar provadores em eventos públicos e fazer o “spin off” duma edição chinesa. Detalhes que reacenderam a polémica. E a curiosidade do mundo do vinho.

No passado dia 13 de Dezembro, a Decanter.com publica um mail do blogger francês Vincent Pousson, com novas pistas sobre o patrão e principal acionista da Wine Advocate: Soo Hoo Khoon Peng, identificado como ex-diretor da Hermitage Wine, um grande importador de Singapura. Soo Hoo teria deixado a Hermitage dia 22 de Novembro, sem grande alarido. No dia 6 do mês seguinte, segundo a página do próprio no Facebook (entretanto removida) andava por Baltimore, próximo de Monkton, área de residência de Parker e da Wine Advocate. A editora de Parker recusou comentar, mas esbatiam-se as dúvidas sobre o negócio e quem controlava agora a Wine Advocate.


Desde então sucedem-se os detalhes que apimentam o debate. Bem como as tentativas de apagar todo e qualquer interesse comercial de Soo Hoo no vinho. Listado tempos atrás como fundador e principal acionista da Hermitage Wine, a empresa diz agora que o empresário malaio já não faz parte da companhia. Mas, segundo as autoridades de Singapura, em meados de Dezembro, constava ainda como segundo maior acionista. Ainda mais suspeito, desde essa altura, quem figura como acionista maioritário é a senhora Josephine Choo Ping, mulher de… Soo Hoo!

Dias atrás, a senhora confirmou à imprensa que é e continuará a ser uma diretora da Hermitage Wine. Uma vez que a empresa faz intermediação de investimentos e compras de futuros e questionada sobre o eventual conflito de interesses com a posição do marido na Wine Advocate, Josephine Choo Ping recusou comentar e remeteu a questão para a “newsletter”, que continua a ditar cotações à escala mundial.

Até quando, falta saber. Para já, sabe-se, isso sim, que o novo dono da Wine Advocate detém 533820 ações ordinárias de uma firma importadora de Singapura, que dispersou um total de 1 milhão e 400 mil títulos por 9 sócios. Acima dele só a mulher, que detém 547820 ações. Juntos controlam 73% da Hermitage Wine. Ou, como diriam por terras do tio Sam, “Wine Advocate Who…?”

Fontes: Decanter.com e Blog de Vincent Pousson

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