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Uma vertical de Quinta da Gaivosa

por Filipe Silva em

Quinta da Gaivosa, 07 de Abril de 2018

Com: Domingos Alves de Sousa e Tiago Alves de Sousa.

A prova iniciou-se com visita às instalações, à vinha e à adega (recentemente inaugurada, em 2015). A atenção à orgânica, ao detalhe e ao respeito pelo Douro; o pragmatismo e a dedicação mostram-se mais tarde nos vinhos em prova. Aqui tudo é - foi e será feito - em função do imenso património (de vinha) que se continua a cuidar, mantendo-se e preservando-se com enorme respeito pelo terroir de xisto, com exposições e altitudes únicas.

Assim, a vertical de Quinta da Gaivosa, teve um vinho preliminar para ajustar o palato.

1- Quinta da Gaivosa 1.ºs Anos 2013

Este vinho é feito com as vinhas mais novas em produção da Quinta da Gaivosa. Plantadas em 2006, esses 6 ha são um exemplo de gestão a longo prazo. As vinhas velhas precisam de reconversão. Para que mais tarde, quem venha também tenha um património rico de vinhas velhas à disposição.

O vinho é de lote, Tinta Amarela, Touriga Nacional, Sousão.

A cor apresenta-se de ruby intenso, com boa profundidade e com um ligeiro violáceo na tonalidade.

O aroma é de fruta madura, tosta ligeira e uma frescura herbal acrescentada de complexidade com as notas de esteva. É rico, intenso e atraente.

A boca apresenta-se com um corpo firme, um bom equilíbrio entre uma acidez viva e o teor alcoólico (14%). O aroma retro nasal, traz de volta toda a palete de aromas antes sentidos, mais uma nota de chocolate preto. Os taninos estão presentes, firmes, frescos e elegantes.

É um vinho de bom recorte, elegante e firme. Apto já para consumo, tem capacidade de guarda. No entanto, creio que o seu estado de graça, será nos próximos 5 anos. 

2 – Quinta da Gaivosa 2013

Este foi o primeiro vinho da vertical. Depois do palato afinado, chegou a última colheita de Quinta da Gaivosa no mercado. Foi um ano de muitas variações de clima. O verão teve temperaturas muito altas e muito baixas. Tiago Alves de Sousa reportou um “bloqueio” de maturação na Touriga Franca, devido a estas mesmas variações de temperatura. Mais tarde iria surgir a chuva de meados de Setembro. Esta pluviosidade ajudou a “desbloquear” a Touriga Franca.

O vinho é opaco, de um ruby brilhante intenso.

O aroma é de uma riqueza e complexidade extrema. Apresenta notas de fruta preta madura, tem notas de mentol, uma tosta de madeira, super fina e integrada. Mostra intensidade e elegância. Nota de qualidade superior, passados uns minutos no copo, abriu ainda mais, dando notas herbais, com toque de folha de tabaco e chocolate preto.

A boca é viva e enorme. Tem uma amplitude notável, é volumoso e crocante. O teor alcoólico (14%) não se sente! O equilíbrio proporcionado pela acidez viva é notável. Este balanço dá-lhe um comprimento em prova notável. Os taninos são impositivos, mas domados dão amplitude e volume, no final uma sensação textural rica e equilibrada.

Uma estrutura notável torna o vinho apto para uma longa vida. Está muito aprazível em prova. Mas crescerá em garrafa durante mais uns anos, sem dúvida. Depois tem capacidade de guarda significativa, dada a estrutura e frescura ácida.

3 - Quinta da Gaivosa 2011

Este é o vinho da colheita do último ano de vintage clássico no mercado. O vinho é tal como o anterior, um espelho da colheita. É rico, maduro, opulento e com muito para crescer.

A cor é ruby, retinto, opaco, brilhante.

O aroma é rico e complexo. Apresenta notas de fruta madura (ameixa, figo), cabedal, tabaco, café e a tosta é elegantíssima, presente mas delicada.

A boca é opulenta, potente, rica e ampla. Mostra taninos maduros, firmes e integrados, que permitem toda a amplitude que o vinho tem. As notas de carvalho francês, mostram uma superior integração. O equilíbrio entre o quente teor alcoólico (14,5%) e a acidez mostram mais uma vez um bom balanço. O fim de boca é imenso e fresco, o que  já se mostra com uma assinatura da marca.

Tem muita vida pela frente e está num momento bom de consumo. Tem no entanto estrutura para crescer em garrafa, para uma melhor prova, dentro de 3 a 5 anos. Posteriormente toda a robusta estrutura permitirá um envelhecimento durante muitos anos (mais de 10). Comparativamente à colheita anterior, é mais robusto e cheio.

4 - Quinta da Gaivosa 2009

De cor ruby opaca, tem uma auréola branca. Indicador visual de um vinho com maior maturidade, face aos anteriormente provados.

O aroma apresenta-se fechado. Passado uns minutos, traz notas herbais frescas e notas de canfora ligeira. Apresenta notas de complexidade com cabedal e tosta em plano de fundo. Os 9 anos de idade, fizeram entrar o vinho numa fase mais fechada. Já não apresenta a jovialidade evidenciada nos 2 vinhos anteriores. Estamos num patamar diferente da Quinta da Gaivosa.

A boca não desmente a linha anteriormente evidenciada pelos outros vinhos. Frescura potente. Taninos firmes e elegantes. No aroma retro nasal, aparecem notas de figo e passa com uma ligeira nota de tosta. Termina longo e fresco.

É o primeiro vinho da vertical a mostrar a patine delicada da idade. Apresenta-se tímido, mas tem estrutura para um envelhecimento mais duradouro. Toda a estrutura se perfila para uma maturação em garrafa em contínuo. Promete mais do que aquilo que mostrou em prova.

5 - Quinta da Gaivosa 2005

De Ruby opaco, com auréola branqueada e com notas de castanho, evidencia a maturação que o ano de colheita informa.

O aroma, é rico e de uma complexidade com multicamadas. Tem notas de fruta, ameixa madura, fruta preta madura, com notas herbais e evidências de esteva. Além deste nível de aromas primários, ainda presentes e marcados. Apresenta notas de tabaco, café e chocolate. Num aroma elegante e rico.

A boca é imensa, com boa amplitude e frescura. O grau alcoólico (14,5%) praticamente não se detecta, dado o fantástico equilíbrio com a acidez. Os taninos são firmes, presentes mas superelegantes, domados e contidos. A amplitude e comprimento de boca são fantásticos.

Um Quinta da Gaivosa maduro, rico e fantástico. Está num momento óptimo de consumo, com notas de jovialidade e de maturidade. Tem apesar disso, uma enorme aptidão para guarda futura.

6 - Quinta da Gaivosa 2003

De um ano de calor extremo, chega outro enorme Quinta da Gaivosa.

A cor apresenta-se de uma matiz e intensidade muito semelhantes à da colheita de 2005.

O aroma resulta mais concentrado, com notas de ameixa madura, figo e passas. Ainda assim com boa intensidade e riqueza. As notas de evolução terciária (em garrafa) são também evidentes e complexas. Depois de uns minutos no copo, abriu e trouxe notas de café e tabaco.

A boca é intensa e de taninos firmes. O teor alcoólico (14,5 %) está bem equilibrado, com uma acidez que o mantém vivo. Tem boa amplitude e comprimento em prova. O fim de boca despede-se quente, espelhando o ano de colheita, mas ainda assim harmonioso.

Foi um ano em que a vinificação foi, por necessidade, adaptada a cada casta e a cada parcela. Tem uma estrutura que lhe permite guardar em garrafa durante mais 7 a 10 anos.

7 - Quinta da Gaivosa 1999

A cor ruby, a auréola castanha e o ligeiro sedimento evidenciam a maturidade deste primeiro vinho do século passado.

O aroma é rico e complexo. Evidencia notas de mentol, ligeira nota de fruta madura e passa. Tudo o resto são apontamentos de evolução nobre, tem notas de canela e chocolate, ligeiro couro e tabaco. Elegante e delicado.

A boca surpreende pela vivacidade. A acidez é vibrante e mantém este vinho de moderado teor alcoólico (13,5%) superequilibrado. Os taninos permitem ao vinho uma amplitude larga que em conjunto com a frescura e o equilíbrio da acidez lhe conferem um enorme comprimento de boca.

O vinho já não maturará mais! Tem no entanto uma estrutura invejável, que lhe permite uma jovialidade surpreendente, com quase 20 anos.

8 - Quinta da Gaivosa 1995

O perfil de cor é semelhante ao vinho de 1999, evidenciando também a maturidade.

O aroma apresenta-se inicialmente fechado, no entanto o tempo no copo, mostra a elegância e a delicadeza de um vinho fantástico. Apresenta então notas mentoladas, com fruta madura (ameixa) e apontamentos de café e chocolate.

A boca mostra firmeza e frescura. Mais uma vez a vivacidade da acidez dos Quinta da Gaivosa marca presença e é um dos firmes pilares, à volta do qual este vinho se construiu e se mantém. Equilibra sublimemente o teor alcoólico moderado (13,5%), e permite-lhe um longo comprimento em prova. Os taninos são finos e firmes, ajudando na amplitude da prova.

O vinho está num momento de prova fabuloso, com maturidade e alguma jovialidade, rico, complexo e fresco. Não maturará mais, mas a estrutura permite-lhe mais anos de guarda com uma prova sublime pela frente.

9 - Quinta da Gaivosa Vintage 2015
Não estivesse no Douro e na numa casa com tradição familiar antiga, a prova terminou com um Porto! Quinta da Gaivosa Vintage 2015. Ainda jovem, muito jovem, mas com promessa de muito futuro! A cor é opaca de ruby brilhante. O aroma é potencia, concentração de fruta preta madura, e elegância. Tem notas mentoladas, ligeiro figo e muita esteva! A boca é firmíssima. Taninos impositivos, opulento, de grande amplitude e vigor. Um vintage para muitos anos, como seria de esperar.


CONCLUSÃO

Desta prova resulta uma enorme lição de consistência e respeito pela vinha. Os diferentes anos de colheita, que foram provados, evidenciam o perfil do vinho escolhido pelo produtor e o respeito pela fruta da vinha da Quinta da Gaivosa. O produtor celebrou em 2017, os 25 anos desta sua marca de capital importância. Mostrou na prova a verticalidade do estilo que mantém e que manterá certamente. Importa referir que é desta parcela de vinha que surgem outros dois vinhos consagrados – o Abandonado e o Vinha de Lordelo. Aguardaremos com atenção o lançamento da nova colheita desta referência, será um valor seguro.

 

Tiago Macena, Abril de 2018

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