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A indústria dos concursos

por Filipe Silva em
Já foi mais comum, mas ainda é fácil encontrarem-se garrafas de vinho em exposição, nas prateleiras dos supermercados ou das lojas da especialidade, ostentando de alto a baixo medalhas e prémios, com as mais variadas cores e designações.

Há as de bronze que se confundem com ouro e as menções honrosas (entre nacionais e internacionais) que se confundem com troféus, passando pelas inscrições artísticas no rótulo, tudo isto com o mesmo objetivo:  o de credibilizar esse vinho e dar assim uma segurança adicional ao comprador.

Há truques e truques, usados (e abusados) pelos produtores: desde o envio de amostras “especialmente” preparadas para o concurso (com ou sem troca de lotes), até ao envio, de forma minuciosamente planeada, de quantidades elevadas de vinhos (por vezes repetidos, mas com designações diferentes), para todo o tipo de concursos possíveis e imaginários.

Há de facto uma indústria dos concursos e das provas técnicas classificadas por profissionais, e jornalistas,  bem como uma metodologia adequada para condicionar resultados, que aumenta em muito as probabilidades de obtenção das classificações mais elevadas.

Ninguém o faz tão bem como as grandes empresas (aquelas que se encontram regularmente classificadas no topo dos rankings das “melhor do mundo”).

Há uns concursos mais fáceis, outros mais difíceis, uns mais caros, outros mais baratos, uns que distribuem medalhas em profusão, outros que são mais parcos em resultados ... e há também em jogo o fator “sorte”, o qual tem essencialmente a ver com a ordem da colocação das amostras em prova e ainda em função do júri que é especialmente seleccionado para uma dada "mesa de prova", influenciando-se desta forma a comparação inter pares.

Nalguns casos, a  própria inscrição do vinho na categoria A ou B (quando o concurso a tal implica) influencia o resultado final, no sentido de o vinho ter ou não uma medalha.

Esta indústria desenvolveu-se tanto nos últimos anos, que algumas dessas organizações têm mesmo dificuldade em encontrar técnicos com algum curriculum e experiência "adequados" para poderem integrar um júri técnico com um mínimo grau de exigência.

Tudo isto é essencialmente uma forma de fazer negócio, que continua a ser muito eficaz (independentemente de existirem muitas variáveis subjetivas numa prova) simplesmente por uma única razão: o facto de ser tão difícil, mesmo para um enófilo com alguma experiência, diferenciar entre um vinho bom, muito bom ou excepcional. Algo que só se adquire com muita experimentação … felizmente!
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