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From Spain with love

por Filipe Silva em

Um experiente operador do mercado do vinho costumava dizer por graça que já tinha passado por duas guerras, mas nunca lhe tinha faltado vinho para vender. Ele lá tinha as suas razões …

A realidade é que Portugal, apesar da sua grande diversidade entre regiões, não deixa de ser um pequeno ou médio produtor de vinho, quando em comparação com a vizinha do lado - Espanha.

Uma das vertentes em que Espanha se focalizou, em termos da sua indústria do vinho, foi a produção de vinho a granel para vários destinos (Itália, Rússia, Portugal …).

Portugal tem sido, ao longo dos anos, um cliente fiel dos vinhos espanhóis a granel, que chegam das regiões espanholas mais produtivas, como La Mancha, por exemplo.

Diz-se que há duas formas dos vinhos espanhóis entrarem em Portugal: uma legal e outra ilegal...

Ninguém sabe ao certo qual a quantidade de vinho a granel que entra ilegalmente no país. Mas diz-se que é certamente bastante superior em comparação com aquela que entra de forma legal.

O vinho espanhol que entra legalmente no país e é comercializado simplesmente como “vinho” (na anterior designação seria “vinho de mesa”), na sua comercialização tem obrigatoriamente que comunicar na embalagem que se trata de vinho proveniente da UE (União Europeia).

O vinho que entrará de uma forma não legal será “habitualmente” incorporado nas contas correntes de vinhos regionais, através de declarações de produção sobrevalorizadas, antes destas serem comunicadas às autoridades competentes, após a vindima.

Isto equivale a dizer que uma dada vinha que na realidade teria produzido 4 toneladas de uvas por hectare, passaria, após essa "correcção", a ter (na declaração de produção) o equivalente a um total de 8 ou 10 toneladas por hectare, por exemplo.

Estes valores, em termos médios, até podem ser perfeitamente admissíveis (ou não … a verdade é que ninguém os parece questionar...), mas na realidade tal não acontecerá de facto, pois a quantidade declarada reflectirá o mosto ou mesmo o vinho que entretanto terá entrado na adega de forma ilegal.

Estas quantidades massivas de mosto e vinho irão sendo desta forma incorporadas nas contas correntes e serão vendidas aos consumidores como vinho português e regional.

Muitas pessoas que trabalham nas entidades fiscalizadoras saberão que isto se passa, com maior ou menor dimensão, há muitos anos. As actividades de fiscalização continuam a processar-se, mas na malha do controlo parece que é apenas apanhada uma pequena percentagem desta alargada e instalada actividade criminosa. 

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