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Apreensão de falsos Barca Velha e Pera Manca
Como quase sempre na Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), a história começa com uma denúncia, que levou uma brigada ao aeroporto de Lisboa. Isto no final de 2013. Passada revista ao “freeshop” do aeroporto, aí foram encontradas algumas garrafas falsas, no meio de rótulos genuínos dos mais caros vinhos nacionais. O suficiente para os inspetores poderem seguir o fio à meada… Quem comprou a quem, quem distribuiu o quê, o varrimento do circuito permitiu descobrir várias garrafeira, em vários pontos do país, atacadas pela contrafação.
Desde lojas mais conhecidas a pequenos estabelecimentos, passando pelas prateleiras do Martim Moniz. Ora, não é preciso dotes de detetive para estabelecer a origem daquela teia, quando uma loja da “chinatown” lisboeta exibe rótulos tão caros como os mencionados Barca Velha e Pera Manca. A investigação viria assim a culminar, já no final de 2014, naquele epicentro de atividade comercial chinesa, com a apreensão de 110 garrafas contrafeitas dos vinhos mencionados, num valor total que a ASAE estima em cerca de 30 mil euros. Na mesma operação, oito indivíduos foram constituídos arguidos, por crime de fraude.
Já esta semana, o semanário Expresso dava à estampa a suspeita de que haveria muito mais vinho contrafeito, direcionado sobretudo aos mercados do Brasil e de Angola. Segundo a mesma fonte, uma das denúncias teria vindo precisamente de um consumidor brasileiro, que comprou uma garrafa de 400 euros, pela internet, só se apercebendo da vigarice depois de abrir e provar. Contactada pelo Wineworld, a ASAE confirma que haverá muito mais garrafas contrafeitas a circular, além das que foram apreendidas: "ninguém monta um negócio destes por meia dúzia de garrafas, o negócio fraudulento só compensa para vinhos caros em quantidade", remata um inspetor da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica.
Episódio que fez soar o alarme junto dos principais produtores nacionais. Todos sabem como esta realidade tem afetado os grandes vinhos franceses, em especial os Premiers Crus de Bordéus, que vêm circular na China muito mais garrafas, duas ou três vezes mais, do que aquelas que são produzidas na origem. Na contabilidade desses Châteaux há até uma alínea de despesas para o combate à contrafação, incluindo a contratação de detetives e especialistas que operam no mercado asiático, por conta da indústria. Para além da aposta em elementos distintivos, como hologramas nos rótulos ou códigos em relevo incrustados no vidro das garrafas. Detalhes de uma guerra surda, nos bastidores do comércio de vinhos, que prometemos abordar aqui, em breve.