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Feiras para que te quero...

por Filipe Silva em

Ser produtor de vinho de qualidade e ter que vender os seus vinhos em Portugal não é de facto tarefa nada fácil nos dias de hoje.

Decorrem neste mês de Fevereiro as primeiras feiras de vinho do ano, nas grandes superfícies, com as habituais temáticas associadas (“Queijos e Enchidos”, “Sabores de Portugal”, etc)

Muitos produtores de vinho que, nos anos 90, colocavam todos os seus vinhos de maior valor nestes eventos (…e que assim tudo vendiam, não percebendo que estavam a estrangular o comércio especializado…) esperam assim ansiosamente que um comprador de uma grande superfície (o qual em regra não prova os vinhos que compra, ao contrário da maior parte dos seus colegas e concorrentes europeus) o contacte.

Quando esse contacto acontece (nalgumas das mais importantes e “profissionais” cadeias organizadas de Portugal, muitas vezes fruto da sempre eficaz “cunha”, a qual é geralmente feita junto da Administração), o produtor é muitas vezes colocado perante uma agressiva proposta de desconto de preço, no mínimo de 20%.

Há no entanto uma condição que quase sempre é imposta pelo comprador: a de ter que levantar e aceitar de volta todas as garrafas que não forem vendidas, após a feira (com o custo de transporte pago pelo produtor), garrafas essas que normalmente chegam de volta, muitas vezes, em caixas de fruta e com grande parte dos rótulos estragados.

Não tendo outra alternativa, apesar de todos os custos, o produtor aceita, pois estas feiras (as mais importantes em Fevereiro, na Páscoa e em Setembro) são as únicas oportunidades para se dar a conhecer ao consumidor, à escala nacional, os seus fantásticos vinhos.

E o consumidor de facto aproveita, no decurso dessas feiras, com algumas boas compras. Mas, como em economia existe algo a que teoricamente se dá o nome de princípio da racionalidade, ao fim de algumas feiras, o consumidor começa então a perceber algumas nuances, ou seja: que os preços (PVP) que frequentemente surgem como referência nos folhetos, nessa altura marcados com descontos de 20%, 30% e 50%, muitas vezes são pura ficção; que os vinhos que num ano tinham uma qualidade excepcional, no ano seguinte… já não são bem os mesmos vinhos.

Acresce ainda a necessidade das grandes superfícies diminuírem as suas referências (o seu “cardex”) e, para venderem grandes volumes, a premência de reduzirem o nível de preços da sua oferta.

E assim os vinhos oferecidos nas feiras são cada vez menos e de mais baixo valor, contando-se actualmente pelos dedos de uma mão as referências que surgem acima dos 14 euros.

Felizmente, existe a exportação, para que não se acabe de vez a produção de vinhos únicos e de topo, os quais não podem ser oferecidos com pvp de desconto.

                                                 Assinado: o Narigudo
                                                 Lisboa, 23 de Fevereiro de 2015

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