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Mulheres no mundo dos vinhos : progressos e obstáculos
O impacto dos movimentos feministas em busca de uma maior igualdade de género pode ser sentido um pouco por toda a parte e o mundo dos vinhos não é excepção. De acordo com Cathy Hughe, jornalista da Forbes as mudanças estão à vista.
A começar pelo número crescente de mulheres a irem para a universidade e a obterem certificados profissionais, o que poderá levar a que, no futuro, estas estejam mais representadas em posições de liderança e cargos de decisão.
Para além disso, são cada vez mais as organizações que lutam por uma maior igualdade e representação de género mais justa e equitativa no sector dos vinhos, com principal destaque para Itália, EUA, França e Austrália.
Por último, o número de mulheres donas de empresas na área dos vinhos está também em crescimento, principalmente proprietárias de adegas e áreas vinícolas, empresas de tecnologia e agências dedicadas à comunicação sobre o vinho.
No entanto, não obstante esta melhoria, de acordo com a jornalista há ainda um longo caminho a percorrer.
Um dos principais desafios prende-se com o acesso a capital. Ser homem ou mulher está longe de ser irrelevante na procura de investimento. Se não há dúvidas que o número de mulheres a trabalhar no sector é cada vez maior, no entanto são poucas aquelas que conseguem arranjar financiamento (comparativamente com os homens) para comprarem terrenos e/ou equipamentos, o que as impede de começarem o seu próprio negócio.
Ao mesmo tempo, a diferença salarial entre homens e mulheres é ainda um problema. O problema não assenta apenas no facto de homens terem mais facilidade em exercerem cargos de topo, e por este motivo terem, em média, salários mais elevados. Esta desigualdade salarial acontece muitas vezes com colegas do sexo masculino que exercem o mesmo cargo que as mulheres, recebendo um salario superior.
Mudar mentalidades
Para uma indústria vinícola mais justa não são apenas os homens que têm de mudar mentalidades. Numa entrevista ao Grape Collective, a produtora de vinhos Merry Edwards afirma que muitas vezes é a atitude das próprias mulheres que as impede de progredir mais rapidamente: "Infelizmente, como todos sabemos, não são apenas os homens que inibem as mulheres de chegar onde elas querem estar. Muitas vezes são as próprias mulheres que discriminam e têm medo”.
Mas a mudança de mentalidade só poderá ocorrer acompanhada de uma alteração da narrativa, também ela mais inclusiva. Quer isto dizer que, como realçou o empreendedor e realizador Senay Ozdemir, numa TedX Talk em Amesterdão é crucial que as histórias e narrativas contadas em torno dos vinhos incluíam mulheres, mesmo que essas não correspondam à realidade. Segundo Ozdemir só assim as mulheres se poderão sentir mais confiantes a avançar com o seu próprio negócio.
A última mudança apontada é simples: dar mérito a elas próprias. No livro “How women rise” publicado este mês por Sally helgesen e Marshall Goldsmith, os autores apontam a dificuldade em partilhar o mérito de um feito alcançado, como uma das principais razões que impede as pessoas de assumirem cargos de topo. No entanto, de acordo com Helgesen e Goldsmith, estudos recentes demonstram que isto não se costuma aplicar às mulheres, que geralmente têm o problema oposto: tendem a valorizar mais o papel dos outros, valorizando pouco o seu próprio esforço.