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Top 15 rótulos eróticos (parte II)

por Filipe Silva em

(Continuação)

11- Mad Housewife

No mercado de destino da jóia anterior, mas nos antípodas em termos de preço e segmento, encontramos uma gama de base que poderíamos traduzir como Donas de Casa Zangadas. Aborrecidas ou, porque não, a reboque da conhecida série, "Donas de Casa Desesperadas"… Que têm a sua piada, como sabemos, desde que não se tenha uma em casa. No caso do rótulo, desde que não seja vinho para a nossa mesa.

Segundo a crítica americana, percebe-se a zanga da senhora. Aromas escuros de cereja preta, num fundo abaunilhado, de média intensidade. Inócuo, até se levar à boca. Apesar do corpo mediano, a entrada é um xarope para a tosse que no meio de boca se revela amargo, com uma acidez agressiva e desconjuntada. Capaz de arrancar uma careta e deixar o apreciador tão zangado como a dona de casa do rótulo.

Sim, já percebemos, o conceito do marketing não era refletir o que vai na garrafa. A subtileza é o vinho acalmar a ira da senhora. Supostamente, recuperando a boa disposição e prazer, após a canseira das lides domésticas. Mas seguramente não será com este. Aqui paga-se 8 dólares pelo rótulo e ponto.

Mad Housewife

 
12- Cycles Gladiator

Este vinho ganhou o seu lugar na galeria das incursões pelo erotismo quando, em 2009, foi banido das prateleiras no Alabama. Um bastião conservador sulista que considerou “pornográfica” a ilustração de uma fábrica francesa de bicicletas, de finais do séc. XIX! A lei estadual proíbe a representação de “qualquer pessoa posando de forma sensual ou imodesta” e o zeloso conselho regulador do Alabama decidiu apear a ninfa da bicicleta.

Conhecido como estado do algodão (Cotton State), tão pouco serviu de atenuante o rótulo ter sido distinguido 3 anos antes, com o “American Graphic Design Award”. Mas, como sempre nestes casos, o fruto proibido é o mais apetecido. O produtor, que de burro não tinha nada, viu aí a sua oportunidade. Recusou alterar o rótulo e colocou à venda t-shirts “Banido no Alabama”, tratando de fortalecer a imagem de marca da adega em redor das bicicletas e da comunhão com a natureza na pacata e rural região de Lodi, condado de San Joaquin, na Califórnia.

Enquanto ali os primeiros colonos plantavam vinhas, na Europa a bicicleta era a maravilha tecnológica, novo símbolo de independência, que proporcionava aos ciclistas um sentimento de liberdade e descoberta. O velho anúncio da fábrica francesa encarnava esse espírito, aparecendo então a imagem do rótulo como homenagem da adega aos velhos tempos. Claro, como quem não quer a coisa, a família Hahn “celebrou” a proibição criando um tinto genérico Lodi, que mantém o rótulo original banido no Alabama muito depois da proibição ter sido levantada, em 2012. Envolvendo-se ainda na causa ciclística, patrocinando eventos como a Volta à Califórnia ou corridas populares nos “States” como a MS150.


13- Saint & Sinner

Regressamos à Austrália para comprovar que não são necessários grandes meios e dispendiosos planos de marketing. Os vinhos Saint & Sinner são o filho predileto do casal Luke Edwards e Renee de Saxe, respetivamente viticultor e vendedora. Ambos trabalharam durante anos no vinho até conseguirem comprar um vinhedo em 2005, vinificando em 2006 as primeiras duas toneladas de Shiraz, numa micro adega do lago Wyangan, região da Riverina. Hoje, o portfolio compreende um espumante da Tasmânia, um Syrah de McLaren Vale e varietais (Pinot Gris, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Sauvignon Blanc) de outras regiões australianas.

A impressão de “marketeer” de Renée está em todas as garrafas; como mulher não tem dificuldade em assumir o papel sexy dos rótulos. Ou não fossem os tentadores atributos femininos atraentes como descritores de vinhos. Tudo começou no gabinete de jovens designers Bold-inc . A partir da primeira entrevista com o casal, em permanente desacordo de opiniões, nasceu o conceito “Saint & Sinner”… daí ao espumante mulher fatal (“Femme Fatale”) e à gama “Calling Cards” foi um pequeno passo.

Tradicionalmente, os pequenos panfletos e autocolantes deixados por prostitutas em cabines telefónicas, continham uma sedutora ou picante descrição e o contacto para obter esse serviço. Feitos para captar a atenção visual, numa comunicação a um tempo atrevida e divertida. Adequada portanto ao público que a adega procurava, urbano, na faixa etária dos 20 e muitos aos 40, homens e mulheres apreciadores das idiossincrasias da vida. Com cada rótulo a exibir uma particular personalidade feminina, cujas características se associem ao perfil do vinho na garrafa. Ou ao invés, realçando atributos do vinho, que surjam aos olhos do consumidor tão desejáveis como as características da mulher no rótulo. Todos com o contacto, o número de telefone, para interagir com a adega.

Saint & Sinner


14- Mollydooker Carnival of Love

Não podíamos deixar a Austrália sem apresentar um dos mais “parkerizados” rótulos de Mclaren Vale. Certo, o último Carnival of Love arrecadou 95 pontos de Lisa Perrotti-Brown, editora chefe da Wine Advocate. Mas a Mollydooker (canhoto, em calão americano) saltou para a fama logo no ano de lançamento, em 2006, quando Robert Parker atribuiu 99 pontos à primeira colheita! Como senão bastasse, o crítico elegeu outro vinho da adega (The Boxer) “best-value” do planeta em tintos e ainda outro como segundo… “best-value”. Cereja no topo do bolo, Parker escolheu o Mollydooker branco “The Violinist” como o melhor valor do mundo, em brancos!

Resultado, nenhuma adega deste mundo conta tantos vinhos com classificações acima de 95 pontos como o casal Marquis. O duo da Mollydooker, entre esta e outras marcas, é responsável por 5 dos 24 vinhos australianos premiados com 99 pontos Parker, na última década. Único casal de produtores que acumula 3 “Bushing Awards”, o máximo galardão atribuído pela região de McLaren. E isto para quem começou com a ambição de produzir o melhor vinho a granel lá do sitío…

Na verdade, esse era o sonho de Sarah e Sparky Marquis, quando juntaram os trapos e se aventuraram no vinho. Mas a vida não quis assim e depois da montanha russa que o destino lhes reservou, enfrentando a falência de permeio, o casal acabou a fazer os vinhos australianos mais cotados na América. Também alvo de duras críticas pelo perfil “porty”, como se diz por lá, de vinho pesado, totalmente orientado para a fruta e teores alcoólicos de 16 ou mesmo 17%. Por exemplo, o patriarca da crítica australiana, James Halliday, descrevia assim o Carnival of Love incensado por Parker: “alcoól absurdo dominando por completo o sabor e textura do vinho, como um Amarone (vinho de passas italiano, da região de Valpolicella, similar ao "Vin de Paille" francês) fora dos carris; no meio disto, um curioso toque amargo no final”.

Ora, se o perfil do vinho dava pano para mangas, já quanto ao rótulo, que é o que nos traz aqui, nada vemos de polémico na descrição do crítico americano: "brilhantemente embalado, este vinho vedado com screw cap exibe um rótulo que remete para as peças vaudeville da Broadway, de meados dos anos 30". Juízo que julgamos extensivo a outros rótulos da marca, a partir do desenho de perfil retro que continua a cair bem, imune a modas. Ainda que o vinho não possa dizer o mesmo...

15- Ménage à Trois

Voltamos ao início, fechamos o círculo: o nome é tudo! Ou quase, num dos mais recentes “case-studies” da indústria, em como o sexo vende. E muito. Num país que proíbe uma ninfa francesa do séc. XIX e onde até os mais avessos ao “français” conhecem perfeitamente o sentido atual da expressão ménage (precisamente, de origem francesa…), a ala conservadora ter-se-á engasgado com a carga claramente sexual do nome e respetivo marketing.

Mas os números demonstram que o risco do nome compensou. Nomeada marca do ano em 2009, pela publicação da indústria de bebidas “Market Watch”, a “Ménage à Trois” tem visto as vendas crescerem ao ritmo de 2 dígitos por ano, ultrapassando a fasquia dos 70 milhões de dólares anuais. Ou seja, num curto espaço, segundo a revista Wines & Vines, tornou-se uma das marcas de vinho mais vendidas na América, apenas superada pelo Chateau Sainte Michelle, Cupcake Vineyards e os Private Selection da Robert Mondavi.

Mas o nome sendo quase, não é tudo… ao duplo sentido da expressão, fazendo do vinho um eventual terceiro parceiro de quem o partilha, soma-se o marketing com idêntica carga sexual. Por exemplo, no site da marca, abundam as descrições com “garantia de satisfação”, “trio perfeito” ou “juntamos 3 parceiros de cama, Zinfandel, Merlot e Cabernet…”

Depois, além do apelo do nome, o sucesso comercial passa por detalhes menos visíveis, como o fato da marca beneficiar da cadeia de distribuição já estabelecida para a Sutter Home, gama bandeira do grupo (Trinchero Family Estates). O que, num país com 50 estados federados e outras tantas legislações, é decisivo.

Outros detalhes há mais visíveis, estampados até na rotulagem, mas que passam despercebidos. A saber, o consumidor aprecia o que é doce. No caso do vinho, desde que não lhe digam que é doce. É assim na América como em quase todo o mundo. Senão, como explicar o estrondoso sucesso dos “Moscato”? Ora, no caso do tinto californiano, o “Ménage à Trois” tem um teor de açúcar residual de 12 gramas/Litro. Segundo a OIV - Organização Internacional do Vinho e da Vinha – o limite máximo para vinhos secos é um terço desse valor. Mas, que se saiba, ainda ninguém se queixou...

Mais, no site da marca, o açúcar residual dos vinhos é apresentado em gramas por cada 100 mililitros, em vez do padrão industrial de gramas por litro. Por exemplo, o mencionado tinto indica um teor de “1,20g/100ml”… Ninguém parece reparar. E se repara, parece mais baixo do que é na realidade.

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