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Um dia, os rótulos serão assim...(?)
Prossegue a cruzada das autoridades norte-americanas contra a obesidade. E claro, as bebidas alcoólicas que acompanham ementas de “fast-food” não escapam ao zelo nutricionista da FDA (Food and Drug Administration), a autoridade federal na matéria. Apesar do valor nutricional do vinho não ser ainda ciência certa, pois está longe de se reduzir à mera contagem de calorias. Pelo contrário. Pesquisas recentes relacionam o vinho com uma série de efeitos benéficos, como a redução de gorduras no organismo e possível perda de peso.
Mas o diploma entra em vigor como previsto, depois da entidade que regula o comércio de bebidas alcoólicas (TTB/ Alcohol and Tobacco Tax and Trade Bureau) ter tentado, nesse caso sem sucesso, que o vinho disponibilizasse aos apreciadores informação nutricional. Em 2013, o TTB determinou que as adegas podiam imprimir voluntariamente todos os “Serving Facts”, nos seus rótulos. Como qualquer produto alimentar previamente embalado. Está-se mesmo a ver o resultado da recomendação. Com a decisão a cargo dos produtores, dois anos volvidos a América continua a beber vinho que disponibiliza apenas o tradicional volume alcoólico…
Mas não será por muito mais. Começa já em dezembro, pelas cadeias de comida rápida. Ora, no país da “fast-food”, não se pense que esta se limita aos McDonalds e pizzarias, regados a batidos e refrigerantes. Há, nos Estados Unidos, largas centenas de cadeias de restaurantes abrangendo todo o tipo de comida. E vinhos. Para acompanhar desde nacos de carne, marisco, peixe grelhado, peixe fresco, queijos… algumas dessas cadeias de ótima qualidade, com ementas ao nível dos bons restaurantes. E cartas de vinhos. Por exemplo, a Flemings (Flemings Prime Steakhouse & Wine Bar) leva à mesa um Winepad, uma carta de vinhos digital e registou a marca “Flemings 100”, que consiste numa lista de uma centena de vinhos disponíveis, a copo ou em garrafa.
Pois bem, como todos os outros, terá de indicar quantas calorias contém os cerca de 12,5 cl de vinho em cada copo, e respetiva variação consoante o néctar possua 11, 12 ou 14,5% de volume alcoólico. A saber, para a maioria dos vinhos secos de mesa, deve variar entre as 120 e as 130 calorias o copo. Isto segundo o próprio ministério da agricultura, em Washington (U.S. Department of Agriculture) e tomando como base a quantidade de líquido mencionada.
Para o que interessa, desde que a cadeia possua 20 ou mais restaurantes nos Estados Unidos, operando sob o mesmo nome e com uma oferta idêntica de pratos, essa informação calórica terá de estar disponível no vinho, bem como em todos os itens da ementa. O mesmo para estabelecimentos similares, retalhistas de comida, e máquinas automáticas. “Os americanos comem e bebem 1 terço das suas calorias fora de casa e têm de ter informação clara sobre os produtos que consomem”, sustenta a FDA.
Assim, para ajudar o consumidor a entender a informação no contexto de uma dieta diária, o diploma estabelece ainda que ementas e cartas de vinho devem obrigatoriamente incluir a declaração: “2000 calorias/dia é a recomendação nutricional genérica, mas as calorias necessárias podem variar.”
Como dissemos, o conteúdo calórico do vinho depende desde logo do álcool, que contém 7 calorias por grama. Mas não só. Claro que um copo de tinto com 14% de volume alcoólico terá mais calorias que um branco com 11,5%. Mas também depende dos hidratos de carbono, leia-se açúcar, que representa mais 4 calorias por grama. Ou seja, se um copo de vinho de mesa contém x gramas de hidratos de carbono, a mesma dose de um vinho doce terá 4 ou 5 vezes mais hidratos e… calorias. Como muitas leitoras saberão, as dietas pobres em hidratos de carbono têm-se revelado até mais eficazes para perder peso, do que as dietas baseadas unicamente na redução de calorias.
Dito de outra forma, o valor nutricional do vinho está longe de se resumir às calorias, que a FDA contabiliza a partir do teor alcoólico. Aliás, pesquisas recentes em Espanha e nos próprios Estados Unidos registam aumentos de peso menores entre consumidores moderados de vinho do que entre os não consumidores. Cientistas de renome concluíram que o homem acaba por consumir globalmente menos calorias quando bebe vinho.
Resultados que não oferecem também eles conclusões definitivas, pois podem refletir em grande medida escolhas e modos de vida que nada têm de científico. Ou seja, dificilmente mensuráveis: é possível que apreciadores de vinho tendam a escolher modos de vida ou hábitos alimentares mais saudáveis; não sendo o vinho diretamente responsável pela perda de peso.
Confirmadas estão as propriedades dos polifenóis presentes no vinho tinto, prevenindo a acumulação de gorduras no sistema circulatório e impedindo, por exemplo, a glicose de chegar às células de gordura. Efeitos que não são tidos nem achados para uma informação que a América pretende detalhada e rigorosa. Mas que a própria ciência ainda não está apta a fornecer. De todo. Estará o vinho…?